Um indivíduo passa a maior parte do dia exercendo sua atividade profissional, o trabalho, que para muitos, é fonte de auto realização e desenvolvimento e é o principal ambiente de convivência e constituição de laços sociais, logo, é inegável a influência o trabalho não apenas na saúde física, mas também na construção da subjetividade do sujeito.
O colaborador não deve ser apenas visto como mera engrenagem do processo produtivo, pensando-se apenas no objetivo final deste processo. Uma relação ruim com o ambiente de trabalho, uma carga horária exaustiva, longas horas de deslocamento até o local de trabalho, falta de reconhecimento, um relacionamento ruim com colegas ou a falta de sentimento de pertencimento são fatores que podem desencadear um sentimento de angústia e ansiedade no dia a dia desse indivíduo, e, consequentemente, um grave estado de mal estar. No Brasil os transtornos mentais são o principal motivo de afastamento de um indivíduo de seu trabalho.
Na contemporaneidade podem ser colocadas novas questões que levam a esse possível aumento, como o aumento do desemprego, causando uma maior competitividade no universo corporativo e uma maior insegurança ao colaborador de uma empresa, bem como a flexibilização das leis trabalhistas que precariza a situação do trabalhador, estando estes, por conta de um desgaste físico e mental, ainda mais expostos aos riscos de adoecimento psíquico, podendo ocasionar no afastamento do colaborador.
Um outro ponto é que os novos modelos de trabalho contam com um ideal de menos coletivização das atividades, levando a um isolamento do indivíduo ao realizar suas tarefas. Pesquisando sobre ansiedade e trabalho na internet, parte dos resultados da busca consistiam em dicas de como controlar a ansiedade e não comprometer sua produtividade e desenvolvimento no trabalho. Isso mostra claramente que a individualização não se restringe ao âmbito das tarefas, mas também a responsabilidade de si e da própria e saúde, assim, quando ocorre algum tipo de problema o indivíduo se sente responsável pelo problema e muitas vezes, até algum tipo de culpa.
A relação entre o que é demandado aos trabalhadores e o que eles têm em troca é muito desigual o que causa uma enorme frustração profissional. Algumas das principais queixas de trabalhadores que chegam ao SUS são de insônia, distúrbios de concentração, irritabilidade, dor nas costas, uso irregular de bebida, esgotamento, angústia e ansiedade. A Síndrome de Burnout ou Esgotamento Profissional é uma doença que vem sendo muito discutida nas últimas décadas Ela atinge muitos profissionais, afetando todas as esferas de sua vida, causando esgotamento emocional, falta da sensação de realização, despersonalização do profissional, além de questões fisiológicas como fadiga, distúrbios de sono e problemas gastrointestinais.
É necessário entender a influência exercida pelo trabalho na saúde mental dos indivíduos para que assim sejam feitas intervenções benéficas tanto dentro da empresa ou mesmo pensadas como políticas públicas de saúde, de forma que o indivíduo não seja obrigado a se adaptar a condições ruins de trabalho pela falta de opção. É importante ter certa atenção nos colaboradores e a forma como têm trabalhado e se relacionado dentro do ambiente de trabalho. Sinais como isolamento, irritabilidade e dificuldade de realizar tarefas podem demandar uma preocupação maior.
A área de recursos humanos nos últimos anos tem passado por transformações, e não mais se restringe a conhecimentos que visam apenas a produtividade e contratações de uma empresa, mas principalmente a qualidade de vida do trabalhador, pensando ações que melhorem a satisfação e realização do colaborador com seu trabalho. Tornar o ambiente mais agradável possível, favorecer a comunicação interna, dar reconhecimento, estimular tomadas de decisão e fazer com que o indivíduo construam uma perspectiva de futuro naquele local são tarefas importantes desse setor para boas condições de trabalho. É importante também fazer com que os colaboradores se sintam seguros e isso pode ser feito através de uma baixa rotatividade da empresa, ou seja, que hajam poucas demissões e admissões de pessoas.
Assim, o local de trabalho pode ser construído e pensado como fonte de autorrealização, construção de laços e desenvolvimento pessoal se pensado de forma coletiva, através da criação de um espaço que possibilite a escuta e a discussão para a construção de um ambiente mais humanizado e que proporcione melhores condições.
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